FESTAS DE LANÇAMENTO
BRASÍLIA
08 dezembro | Cine Brasíila | show Konkrete
SÃO PAULO
10 dezembro | Razzmatazz
11 dezembro à tarde | radio Brasil2000
11 dezembro, 23h | Astronete
RIO DE JANEIRO
12 dezembro | O Escritório | show Lê Almeida
VITÓRIA
13 dezembro | mercado das coisas | show Ventre
RECIFE
18 dezembro | show Zeca Viana, D Mingus, FireFriend
SANTO ANDRE
18 dezembro | 74 club | show Giallos e Cruel Face
FORTALEZA
20 dezembro | show Firefriend, Máquinas, Lótus
*
CURITIBA
06 fevereiro | show Sonora Coisa, John Candy, La Vantage e Firefriend
SOROCABA
13 fevereiro | show Justine Never Knew The Rules e Firefriend
*
SÃO LEOPOLDO
informações em breve
PORTO ALEGRE
informações em breve
FLORIANÓPOLIS
informações em breve
*
BELO HORIZONTE
informações em breve
UBERLÂNDIA
informações em breve
GOIÂNIA
informações em breve
RIBEIRÃO PRETO
informações em breve
SOROCABA
informações em breve
PIRACICABA
informações em breve

A
distorção é uma coisa maravilhosa. Você cria novos caminhos com ela. O
William Reid mudou a sonoridade do mundo, ele não é tecnicamente um
grande guitarrista, mas não precisa ser. Tem muita gente que é técnica e
é chata pra caralho. Ele inventou uma linguagem com a distorção.
Eu sempre gostei de música, tenho uma relação forte com isso. Era a época do DO IT YOURSELF, então foi uma boa época para
experimentar isso aqui, era uma época em que se falava em Pós-Punk, e
aquele monte de coisas, só que ao mesmo tempo era muito difícil você
montar uma banda, e reunir pessoas que entendessem aquele som novo.
Zé ANTôNIO ALGODOAL
+

O que o Pin Ups tinha de sobra era energia. Energia. Desde o começo era um instrumento de provocação. Não só pra mim. Para o Zé também. Ele tocava muito bem, mas ele queria incomodar as pessoas. E eu também. Eu queria incomodar as pessoas com os meus quadrinhos. Eu queria fazer as pessoas acordarem. Você não precisa de consistência pra fazer isso. Você só precisa de energia. E era isso o Pin Ups. Energia pura. Chegava no palco, era um horror. Era mesmo. Era briga. Eu já tive overdose em cima do palco. Era um barulho. Uma coisa visceral. Eu nem queria saber. Quando as pessoas me perguntavam porque eu cantava inglês, eu mal conseguia responder, eu ria na cara da pessoa. Não importava. O Pin Ups era isso, provocação pura.
LUIS GUSTAVO
+

Eu nunca senti necessidade de criar uma persona para
o palco. O que você vê no palco é o que você vai ver no açougue, na
fila do banco, sou eu, eu sou assim. Eu sou um produto de São Paulo, sou
estressado pela própria natureza, entendeu? Eu sou tenso. Eu sou
pilhado. Isso vai para a minha música. É a forma como eu vejo música, é a
forma como eu escrevo música. Eu não sou o tipo do cara que vai
escrever balada. Eu não sei fazer isso. Nunca sai assim. Não é o que vem
na minha cabeça quando eu penso em fazer música. Na minha cabeça... é
aquela... EXPLOSÃO.
MARCO BUTCHER
+

No
começo nós éramos poucas meninas na cena. Você podia contar nos dedos.
Depois a coisa foi aumentando um pouco. Aí, em 1995, li uma entrevista
com o Bikini Kill na melodymaker. Elas tinham lançado uma demo pela
Dischord, do Ian Mackaye. Comecei a ouvir aquilo, ao mesmo tempo
apareceu essa cena das riot grrrls. Fiquei completamente alucinada com
aquilo. Alucinada. Pensei “aquilo é pra mim, essa sou
eu. Essa sou eu”. E, assim como eu, havia outras meninas, como a Eliane
que tocava no PIN UPS comigo. E aí a coisa foi indo, fui ficando cada
vez mais feminista, extremamente feminista. As meninas vinham falar
comigo nos shows. Tinha essa vibe de empoderamento feminino. Fiz um zine
chamado ‘Cantinho das Felinas’, um zine super feminino. Era um folhetin
feminino punk rock. E eu estava começando a cantar no PIN UPS. Eu
queria agregar, chamava pra tocar, fazia fanzine, dava espaço, já tinha o
THE BIGGS em Sorocaba, a gente tocava bastante. A gente formava
bastante, as meninas eram bastante amigas. Eu era muito sozinha antes
disso, era eu e dúzias de homens. E de repente começou a ter um monte de
meninas tocando, fazendo zines, na onda das riot grrrls. Viramos uma
gangue de meninas.
ALê BRIGANTI CRUZ
+

Eu amo o rock’n’roll e vivo essa porra mesmo, e é intenso. Tudo o que
eu começo eu vou até o fundo, eu quero ver qual que é, tá ligado? Com o
punk, com o metal, com droga, com mulher, com comida… eu sou muito
compulsivo
FLAVIO CAVICHIOLI
+

Uma
vez no Exército um capitão me mandou buscar o jantar dele uma vez, eu
fui, quando voltei ele disse que estava frio e me mandou pegar de novo.
Eu fui a segunda vez, voltei, ele disse que estava frio novamente e me
mandou pegar de novo. Aí eu respondi: vá se fuder. Mandei ele à merda.
Ele respondeu:
— Tire os cadarços e vai pro xadrez.
No exército
era isso, você se sente um inútil, perdendo tempo da sua vida, você está
ali jovem, com 18 anos, preso naquele lugar, querendo fazer um monte de
coisa e não podendo fazer nada.
GUSTAVO RIVIERA
+

Em 2010 o FORGOTTEN BOYS tocou para trinta mil pessoas, abrindo para
o Guns’n’Roses, no Pacaembu. Foi legal ter feito isso. Foi a maior
platéia da gente. Foi o único show do Forgotten em um estádio. É uma
coisa diferente. O estádio tem essa coisa que fecha você, é muito
grande. Eu estava tranquilo — não fui fã do Guns’n’Roses na
adolescência, eu era do punk rock. Mas aí tem um negócio curioso de show
tão grande… o público não tem cara. É muito diferente de um
show pequeno. Me dá mais nervosismo quando estou frente a frente com
alguém, você vê a sensação, a reação toda. Um show grande é muito mais
frio. Você está muito distante das pessoas, muito distante dos colegas
de palco, o palco é gigante, não gosto. Prefiro tocar em um palco
quente.
E aí tocamos no
Outs logo depois de fazer esse show do Pacaembu. Conversando no camarim
do Outs… quer dizer, no cativeiro do Outs… do lado do depósito de lixo:
“Importante fazer um show desse aqui no Outs, pra gente cair na real…”
Porque é isso, os clubes pequenos, os festivais de garagem, as viagens
pelo interior, as turnês com seis pessoas amassadas em um carro viajando
pelo interior do nordeste… Não tem ensaio melhor do que esse. O
Forgotten Boys é uma banda de estrada. E a estrada... tem muita
história. Muita.
Zé MAZZEI
+

Viajar
é outro departamento. Você tem que puxar o freio de mão, guardar várias
coisas e dizer “vamos nessa”. Porque qualquer coisa é motivo. O que eu
vou fazer? Vou para casa? “Falou galera estou chateado vou embora”? Não
dá. Em turnê você tem que ceder muito. Porque se não você fode com
tudo, deixa todo mundo na mão.
A gente chegou quarta, de avião, em Natal, à noite. Amanheceu,
gravamos um programa. Demos uma entrevista bem maluca. O primeiro show
foi em Mossoró. Chegamos lá e dormimos em um alojamento… um vão… com o
banheiro entupido. Deixamos as coisas lá. O lugar onde íamos tocar se
chamava Flecha na Goela, foi legal o show. E aí a gente foi para
Fortaleza. Que foi trevas. Tinha o palco, nele tinha uma escada caracol
que subia para um escritório, que era usado como camarim depois que
pegou fogo. E o calor? Nego passando mal. Aí chegou a hora do show, era
só descer a escada e atacar. No dia seguinte voltamos para Natal,
chegamos e tocamos. Fizemos o show à nove da noite e saímos correndo
para Recife, onde nosso show seria à uma da manhã em um pub. Chegamos lá
com as guitarras embaixo do braço, o público esperando, aquela coisa.
Subimos no palco, batemos a afinação e mandamos ver. No meio das
pessoas, lotado, as pessoas estavam na nossa cara. É bom assim. É um
caos, é bacana.
Quando a banda está em turnê tira o cabaço no
primeiro show. No segundo já está legal pra caramba. A partir do
terceiro vira um trem, um trator, ninguém pensa mais. Foi bom pra
caralho.
DIONISIO DAZUL
+

Tinha
época que eu morava sozinho, tinha época que eu estava morando no chão
da casa do Gustavo, tinha época que eu estava namorando, pra mim é bem
confuso. Lembro de mudar de um lugar para o outro e cabia tudo no
porta-malas do meu carro: a coleção de discos, minhas roupas e minha
guitarra. A banda me dava oportunidade de conhecer lugares do Brasil
onde talvez eu jamais iria. Se eu fui para Manaus
um dia na minha vida, e eu amei Manaus, foi por causa do Forgotten
Boys. A primeira vez que eu pisei na Argentina, e puta, eu nem sonhava
em ir pra lá, foi com o Forgotten Boys. Conheci o Chile, o Uruguai,
todas as capitais que a gente foi, todas as cidades, tudo isso foi por
causa da banda. Conheci muita gente, fiz muitos amigos. De lá pra cá eu
acabei fazendo vínculos com pessoas tão diferentes que, se você colocar
todos na mesma sala, elas se matam.
CHUCK HIPOLITHO
+

Eu
tinha 14 anos, 1998, fim do primeiro mandato do FHC, um momento de
agitação social enorme, crise de recessão, desemprego altíssimo, SP era
uma podreira, o centro completamente abandonado... um dia meu pai abre o
jornal e estou eu, na capa do Estadão, queimando a bandeira numa
manifestação no centro.
RAMONE
+

Eu tinha treze anos e fui parar numa escola onde todo mundo era meio playboy, e como sou filha de nordestinos, sofria muito bullying. E meu pai sofrendo pra pagar aquilo. Ou seja, eu fiquei super marginalizada. Tinha uma raiva dessa escola, uma escola de padres. Eu ia com uns tênis mais baratos e ficava todo mundo rindo da minha cara. Eu me sentia sempre, sempre, sempre, um pouco inferior aos outros. Nem racionalizava. Ficava muito sozinha. Chegava no recreio e riam de mim. Fiquei revoltada. Pré-adolescente, doze anos, todo mundo chamava: “Ah, seu baiano”. E eu que era a baiana.
O que aconteceu foi que conheci três meninos da minha sala, que ouviam punk, Ratos do Porão e Ramones. Eu colei neles, foi um alívio, uma libertação. Conheci essas bandas por causa deles. Fiquei obcecada. Foi uma transformação, virei punk. Comecei a rasgar as roupas, a pintar o cabelo de vermelho, foi uma libertação. Eu senti que não era mais julgada por ser do Nordeste, ou porque eu não tinha roupa de marca – porque eu não tinha dinheiro pra ter roupa de marca – quando eu comecei a ir as shows era uma sensação de liberdade total, porque era todo mundo se divertindo e pronto, não tava ninguém julgando ninguém. Eu já queria ter uma banda. Na escola eu ouvia uma banda de uns meninos tocar, fiquei louca olhando pra bateria. Eu fiquei hipnotizada. Fiquei muito maravilhada. Eu queria tocar.
HELENA FAGUNDES
+

Quando
estava na escola eu batia nas crianças, não fazia amizade, era super
anti social. Sempre ficava indo no psicólogo, psicólogo, psicólogo... e
nunca dava certo. Daí um deles disse: coloca o moleque para fazer alguma
coisa. Eu tinha seis anos, já fazia judô, que não era muito bom porque
aprendi a bater ainda mais, e fazia atletismo também. Então ele
recomendou: coloca o moleque para estudar música.
ADRIANO CINTRA
+

Lugar
de banda é na estrada, totalmente; é você estar perdido num rolê com os
seus amigos. Quando você tem uma banda, as pessoas podem ser muito
talentosas, muito fodas, mas se você não sai da sua cidade, só pode
chegar até um determinado ponto de criatividade. Quando você viaja há
muitos estímulos, você toca a mesma música em cada lugar e ela soa de um
jeito diferente. Depende da platéia que você
tem, se o lugar é frio ou quente, ou se é uma praia. E isso abre o
negócio de um jeito, saca? Que só a viagem faz. A estrada é tão
necessária pra música quanto você saber tocar ou escrever letras, ela te
alimenta de uma forma muito foda.
JONAS MORBACH
+

A minha busca sempre foi criar situações que instigassem a audiência da mesma forma como eu gostaria de ser instigada. Causar uma curiosidade no expectador, fazendo com que ele tivesse alguma imaginação em relação a quem estaria por trás daquilo, daquele invento. Era uma vontade de fugir da realidade, porque a realidade era muito chata, então a vontade de ir para o palco era um pouco isso: tornar a coisa um pouco mais divertida, com alguma novidade, mais do que a mesmice de voltar pra casa e não ter acontecido nada de surpreendente. Eu me sentia mais uma performer, criando uma conversa com o público para além da música, transportando as pessoas para outras possibilidades, inspirando as pessoas.
JOANA C4
+

O punk tem muito a ver com uma postura de vida e não com música só. Ter tido banda desde cedo, e ter tido responsabilidades com banda e ter aprendido a trabalhar em equipe... Tem esse lado de vocˆ aprender a conviver com as diferenças e respeitar as pessoas. Tem o lado do Do It Yourself: pense por si mesmo, aja por si mesmo. E não é individualismo, é que você precisa ser capaz de ser... Quer dizer, como é que você vive em sociedade se você não consegue dar conta de si próprio?
Eu vejo as pessoas muito inseguras, muito infelizes, tentando botar uma banca de - minha vida é ótima - no fcbk, tentando vender uma imagem de si mesmo, e no final, pra que? Você nunca vai conseguir que todo mundo goste de você. E pra que? Quer dizer, que tempo você tem? Eu acho que isso não é uma coisa que as pessoas ensinam muito, e isso pra mim vem de uma imagem adolescente do Sid Vicious fazendo assim, foda-se. Foda-se mesmo para o que os outros acham.
A gente não se encaixava numa coisa muito hype. Gostava quando tinha show na rua, show de r´dio, que sempre tinha muita gente, gente que não costumava ter acesso aos clubes caros, sempre eram os melhores shows. Shows de dia. Acabava o show e a gente sentava com quem tinha chamado pra tomar cerveja e ficava oito horas conversando, até mesmo em outras cidades ou festivais. Isso era uma das coisas mais legais de ter banda: conhecer outras realidades e pessoas com visões diferentes.
MARINA PONTIERI
+

O
tio de um amigo meu do bairro trabalhava na seguradora de um banco… “ah
esses moleques vagabundos… vão trabalhar”. E eu queria, eu queria
dinheiro para comprar uma aparelhagem melhor, equipamentos para fazer um
som. Eu tinha dezesseis anos. Fui trabalhar e NUNCA consegui juntar a
grana. Nunca consegui. Nunca. Foi aí que eu me liguei: “Cara, eu vou
ficar aqui a vida inteira tentando juntar a grana
e não vou conseguir”. Estava perdendo a vontade de tocar, porque quando
você fica nesse ritmo de escritório, nessa merda de acordar cedo e vai
trabalhar e tem hora do almoço, tem hora para voltar, tem hora disso e
hora daquilo, hora de cagar, hora de dizer sim senhor, não senhor… você
volta pra casa e não quer fazer nada, está consumido, você foi
completamente sugado. E às vezes não tinha nada pra fazer no trabalho,
mas eu tinha que esperar a... hora de ir embora… “porra, vou ficar a
vida toda fazendo isso, esperando o horário para ir embora?”
CLAYTON MARTIN
+

A gente vagava por Brasília sem muita conexão com a realidade.
Totalmente fechados no quarto. Ou em lugares abandonados. Não sabíamos
nem que existia uma cena de bandas. Ficávamos lendo a bizz, comentando
sobre o passado do rock de Brasília, a história da LEGIÃO URBANA, e
ficávamos nos perguntando onde estavam as bandas naquele momento. Até o
show da FLOWERS’ LAND. Foi aí que a gente encontrou uma turma, como a
galera do ANIMAIS DOS ESPELHOS. Então começamos a perceber o que estava
acontecendo. Era 1992. Montamos nossa primeira banda, o STEPHEN HERO,
mas não durou muito. De qualquer forma eu achava do caralho tudo aquilo.
Eu queria muito participar de uma banda. E aí quando apareceu o Claudio
Bull e Daniel Luna, a galera da DIVINE, eu pensei que aquilo já não era
mais uma banda de amigos, era uma coisa mais séria, acima disso. Era um
mundo totalmente novo, tinha essa coisa… rock com referências à
macumba, ao catolicismo, uma coisa muito doida, muitas referências. O
Claudio era historiador, jogava nas letras arquitetura, candomblé, ele
tinha uma mente muito aberta. E era cheio de conexões e referências… e
morava naquele apartamento completamente maluco. A gente ficava muito
lá. Pra mim aquilo tudo era uma saída para o meu enclausuramento. Eu
tinha encontrado uma turma. O que fosse estava bom pra mim. Eu queria
fazer as coisas. Sempre da forma mais simples o possível. Instintivo. A
gente ia na doida. Embarcamos nessa de cabeça.
BAGU
+

O grunge trouxe uma coisa
muito boa do punk, o Do It Yourself. Um discurso do “Foda-se”.
Acreditamos muito no Kurt Cobain… “eu sou assim mesmo e a minha música
sou eu”. Mas isso é uma mentira. A gente devia ter acreditado mais no
Jim Morrison, no David Bowie. “Quando eu subo no palco, eu sou uma
arte”. Eu não sou mais aquela pessoa. Eu sou outra coisa. Como se o
palco separasse o público e o privado. Eu sou artista mesmo e sou o
maior zé ruela, mas quando eu subo no palco eu faço Arte. Claro que o
que você vai levar para o palco é uma parte de quem você é. A gente
perdeu muito o contato com as artes cênicas, quisemos ser nós mesmos no
palco. Se alguém do teatro tivesse dito pra gente “cara, presta atenção…
Arte… você pode ter tido um dia excelente, mas à noite, quando você vai
para a sua peça, interpretar um personagem, você vai chorar a noite
inteira”.
THIAGO BOUZA
+

Se a DIVINE existisse hoje os evangélicos iriam aos shows para botar fogo. O primeiro show tinha só quatro pessoas assistindo, e eu era uma delas. Eu era fã da banda desde aquele primeiro show. Eu estava em um churrasco no Lago Norte, até o Rodrigo Rollemberg (atual governador do DF) estava lá. Aí alguém disse:
— Temos que ir lá. É o primeiro show do Claudio Bull.
O motivo da minha primeira briga com o CÂMBIO NEGRO foi eu ter entrado para a Divine, que era conhecida como uma banda gay, por causa das temáticas. Eu nunca tive problema com essa referência, pelo contrário, sempre tive orgulho de tocar numa banda tão boa. Conheci o Wilton em um show com a OZ. Sou carioca, moro em Brasília desde os dez anos de idade. Comprei um baixo em 1984, Rock In Rio. Eu morava na 215 norte e depois na 416 sul, onde tinha muita gente que mexia com rock, CONCORDIA, PÚS, DETRITO FEDERAL, FALLEN ANGEL e por aí vai. Esse pessoal todo estudava na mesma escola. Quase todo mundo do Setor Leste.
Quando você monta uma banda com quinze anos é troca de informações o tempo todo. E ali tive contato com uma outra galera. Quando saiu o primeiro disco do Dead Kennedys no Brasil, eu levava ele para a escola, e algumas pessoas vieram falar comigo, entre elas uma mulher de cabelo vermelho. O nome dela era Raquel Nolasco, com quem montei o ANIMAIS DOS ESPELHOS, minha primeira banda. Eu nunca fui exatamente punk. Eu andava de coturno, raspava a cabeça, era feio, fazia baixaria, todas essas coisas… e a atitude estava lá.
ZECA
+

Eu cheguei em Brasília e não sabia de porra nenhuma. Não conhecia ninguém. Não sabia de cena. Cheguei, entrei numa escola, o primeiro dia foi horrível, tentei entrar pela porta errada, já fizeram piada comigo. Eu sempre fui aquele moleque novo que tinha que se impor, que não conhecia ninguém, que era tímido, introvertido, e sempre sofria bullying… você chega no Rio com sotaque nordestino, chega em São Paulo com sotaque de carioca, chega em Fortaleza com sotaque de paulista… E aí no final eu já estava sendo um outcast, andando com os caras esquisitos da turma. O Samuel, que depois tocou na LOW DREAM, era primo do Andrezão da OZ… o Rodolfo me deu uma carona uma vez e colocou a primeira demo dos RAIMUNDOS, antes de ser lançada. Foi quando eu conheci o Claudio Bull e entrei na DIVINE.
Éramos todos outsiders, todo mundo esquisito, todo mundo se vestia diferente, eu tinha cabelo roxo, moicano, todo mundo andava do jeito que queria e a gente se sentia à vontade.
Um bando de moleques classe média com aqueles valores brasileiros machistas, e de repente você começa a entrar nesse mundo rcknrll, e conhece as pessoas, e vê que elas são inteligentes, que elas são interessantes. E aos poucos meu interesse foi crescendo. O Marcius e o Wilton entraram na banda, a gente começou a tocar, começou a rolar uma sinergia bacana, como em tudo, como no design, em qualquer coisa mais artística, rola um tesão. Aquele momento, quando a química bate, nada mais importa, a música está rolando e está todo mundo na mesma vibe e você sabe o que vai acontecer, você sabe o que o outro vai fazer… rola um tesão absurdo. Fui ficando mais animado, com tesão de estar tocando numa banda.
DANIEL LUNA
+

Quando
eu comecei a ficar mais pelo centro do Rio de Janeiro, foi meio
chocante até. Demorou até eu me habituar. Tipo, você quer ver um filme,
vai ao CCBB e paga 4 reais, sabe. Vai na Caixa Cultural e vê uma
exposição, de graça. Culturalmente é muito bom, tão diferente da
baixada. E gasta-se bem menos dinheiro aqui. Você não gasta muito com
passagens ou fica horas no ônibus, por exemplo. E circulei
com a minha namorada pelo mundo da arte, das artes visuais. Fiz várias
amizades, conheci muita gente. Compreendi muito o universo daqui do
centro. Eu saio de bicicleta à noite, faço as minhas paradas. Faço as
festas e os shows aqui no Escritório, vem gente da zona sul, do centro,
de vários lugares. Vem gente do cinema, da música, das artes. Eu gravo
nossos discos aqui e eles são lançados em LPs. É aqui que a gente
planeja nossos shows no sul, no nordeste. Eu gosto desse lugar.
Lê ALMEIDA
+

Eu
tocava em uma outra banda chamada MOTHER JONES, que era do circuito
alternativo aqui no Rio de Janeiro. E aí fui na casa da menina que
tocava guitarra nessa banda pra trocar ideia, e lá eu vi um disquinho
chamado ‘Eu, eu mesmo e vários beijos cafeinados’ e com a capinha feita à
mão. Era o disco do COLORAÇÃO DESBOTADA. Quando eu ouvi o primeiro
acorde, eu já falei “NOSSA, o que é
isso? É daquele garoto mesmo? Nossa, não acredito”. Aí eu fiquei doido
para encontrar o LÊ ALMEIDA e falei: “pô cara, se você quiser alguém
para montar uma banda, me fala” e ele “ah, tá tranquilo”.
O
Coloração Desbotada era o início do trabalho pessoal do Lê. Foi a
primeira produção da Transfusão, em 2004. Acho que ele montou a
Transfusão para lançar esse trabalho. Ele primeiro gravou e depois criou
a Transfusão Noise Records. Ele levava as coisas deles para os outros
selos, mas ninguém queria fazer nada, então ele criou o lance dele.
Ninguém queria gravar no quintal de casa, com instrumento fodido.
As pessoas achavam que isso não ia pra frente. Que não ia dar em nada.
Mas eu acreditava. O Lê acreditava. Quem acreditava estava ali fazendo.
BIGU
+

Eu estava ouvindo ‘Sabbath Bloody Sabbath’ em casa, na rua Lisboa. Bem alto. Pensei “preciso de uma SG” e na mesma hora fui até a esquina da rua e entrei numa loja na Teodoro Sampaio. Comprei uma SG barata com doze cheques pré-datados. Voltei para casa, liguei no amplificador e coloquei o disco de novo. Bem mais alto. Meu primeiro vinil da banda, comprei com catorze num sebinho perto de casa. Era a transição do vinil para o cd, uma época especial para quem gostava de coisas velhas. 1992. O cd era vendido como a oitava maravilha do mundo. E um amigo na escola trouxe um Appetite For Destruction do Guns’n’Roses em vinil, rodou a sala inteira. Mas depois alguém trouxe um cd do mesmo disco e a galera ficou em volta admirando como se fosse ouro.
Na escola os Lps eram desprezados, eram lixo pra muita gente. Só queriam comprar cds. E eu não tinha grana para aquilo. Eu não acompanhei os lançamentos. Até as lojas onde eu conseguia comprar antes meus Lps agora iam tendo cada vez menos coisas. Então eu tinha que ir aos sebos comprar discos. Quando eu era mais nova, seis ou sete anos, eu odiava o som do vinil. Me incomodava ouvir até o ruído da agulha riscando o disco. Um agudo nítido, a agulha passando pelos sulcos, resultado daquele processo mecânico. Aquilo não era parte da música. Quando o cd chegou, veio sem aquele ruído. E aí aconteceu uma coisa fantástica: as pessoas começaram a trocar suas coleções. Olhavam parar aqueles Lps como lixo. Eu comecei a ganhar um monte de disco. Discos de jazz. Rock. Muito rock. Então minha coleção cresceu muito nesse tempo. Comecei a perceber que os Lps eram vendidos muito baratos. 1 real, 2. Era uma festa.
Mas aí meus pais conseguiram comprar um novo aparelho de som com cd player. E comecei a ouvir cds em casa. E comecei a sentir falta do ruído. Eu já estava vendo shows, onde sempre há muito ruído. As pessoas falando, as caixas estouradas. Aquele ruído era a REALIDADE. E me apaixonei novamente pelos discos.
JULIA GRASSETTI
+

Eu
era cabeludo, raspei a cabeça quando entrei na faculdade. Aí veio a
fase do estágio e comecei a ficar careca. Eu via os caras na agência:
novos... mas já velhos... tristões... um tempão ali. Aí eu me liguei: “é
isso que deixa as pessoas carecas. É se fuder num trabalho idiota...
acordar cedo, não dormir... tudo isso deixa você careca. Tá errado
isso”.
Eu vim para São Paulo quando
entrei na faculdade e fui atrás da cena de rcknrll da cidade. Eu fiquei
chocado quando vi o Flavio Cavichioli tocando. E o FORGOTTEN BOYS era
uma banda que parecia estar num rolê fora da mídia, tocando o foda-se.
Era a banda de Sampa que a gente gostava. “Dá pra fazer um rock em
Sampa”. E na faculdade eu via adesivos do SEYCHELLES. Essa guerrilha de
bandas. Eu olhava aquelas coisas e pensava “isso aqui… é legal”. Aquele
era o jeito de fazer banda. É colando adesivo no poste. Eu não via outro
caminho. Era como aqueles caras faziam.
Em Jundiaí, quando eu
tinha catorze anos de idade, eu já tocava. Numa banda muito tosca. Tinha
a galera do hardcore, tinha a galera do metal. E só. E eram separadas.
Eu era do metal. Tinha a banda DVG, meio industrial, os caras usavam
sequencers, uma bateria que era só surdo, bumbo e caixa, e bem
alternativo para o que estava rolando lá. Eu ia ver e achava o máximo.
“Putz esse cara é muito louco, olha o som que ele faz.” Quando eu vim
para São Paulo, morar e estudar, cheguei aqui e vi uma cena maior. Vi um
show do DANIEL BELEZA, CACHORRO GRANDE. Achei toda essa cena muito mais
descolada. São Paulo fervia.
JUDAZ MALLET
+

Era
uma época que Jundiaí era conhecida como a Seattle Brasileira. Eu era
bem inteirado da galera. Eram os anos noventa. A cidade inteira virou
grunge. Todo mundo na escola usava camisas de flanela e queria ter uma
banda. O grunge realmente trouxe o rock de volta. Todos os bares tocavam
rock, tinham bandas ao vivo, tinha mosh, vinham bandas de São Paulo,
com o RIP MONSTERS do Gastão. Na época a
mtv bombando, a gente via ele lá e veio tocar na cidade, foi um evento.
Muitas bandas começaram a aparecer na cidade. Eu ficava em casa
tocando, escrevendo letras. Montei minha primeira banda, o CRUSH JUNK. E
aí nós criamos um zine que tinha na capa isso “Jundiaí,a Seattle
brasileira”. Todas as bandas do interior e até mesmo de São Paulo
queriam tocar lá, a cidade estava mesmo fervendo. Grunge, ter bandas,
atitude rock’n’roll, camisas de flanela. D.V.G. (DEATH by VISITATION of
GOD), ASTRO FUCK ELROY eram bandas dessa cena. Todas essas bandas tinha
um pé em algum lugar. Jundiaí na época estava super bem. Estava rolando
uma vibe na cidade. E a gente fazia show, tinha público, o zine
ajudava, tudo toscão, do jeito que tem que ser.
Esse sempre
foi o meu objetivo em ter uma banda, viajar. Conhecer lugares novos,
viajar pelo mundo, gente nova, tocar e ir embora. E o FIREFRIEND foi a
primeira banda que eu tive a experiência de festivais. De você fazer a
mala, pegar a estrada, chegar lá e encontrar aquele monte de outras
bandas tocando juntas, lotado… festival é legal pra caralho. Eu estava
bem feliz. No quesito timbres, sonoridade, o que eu estava tocando ali
eu estava bem feliz. Eram os pedais que eu queria usar, o barulho que eu
queria fazer, e o Firefriend sempre me deu a possibilidade de tocar
dentro dos meus limites, o que é importante. Eu nunca fui um guitarrista
virtuoso, nunca gostei também disso. Eu não sei tocar os solos do Van
Halen. Mas nada disso importava no Firefriend. Eu nunca me senti
pressionado para ter que fazer alguma peripécia guitarrística, porque
isso não tinha nada a ver com a banda. Combinava o meu grau técnico, o
meu estilo musical, a minha expectativa quanto a mim mesmo e quanto à
banda.
O que importava mesmo era o que vinha de dentro de você, o seu estilo e o que você era capaz de fazer com aquilo.
MONDRIAN CORREA
+

Minha
primeira bateria foi uma Yamaha preta. Que eu comprei do pai de um
amigo. O pai desse cara roubava e vendia carros em Carapicuíba. E
recebeu uma bateria como parte do pagamento por um carro. Ele deu para o
filho, que não sabia tocar. Eu me interessei, ele me fez uma proposta,
eu queria muito. Arrumei um emprego no mcdonalds em um shopping em
Barueri e trabalhei por alguns meses até juntar a grana. Comprei a bateria com dezoito anos.
Quando minha família se mudou para Carapicuíba, eu acabei me envolvendo
com pessoas que curtiam basicamente punk rock. Comecei a ter contato
com uma galera mais da vida real. Não da bolha em que eu vivia na
Aclimação. Em Carapicuíba todo mundo ficava na rua. Eu comecei a
perceber que eles eram mais livres. Por mais que não tivessem acesso às
coisas que as pessoas que moravam no centro tinham, ao mesmo tempo eles
tinham mais curiosidade sobre as coisas. Quando eu fui morar lá, as
pessoas ouviam coisas como The Cure, Smiths, BLIND PIGS.
Banda é uma missão. Quando você é baterista é uma missão. A banda tem que ser muito legal.
Teve uma época no FIREFRIEND… que eu pulava muros de estações de trem
para chegar nas gravações. Eu estava muito quebrado. Estava andando com
uma galera muito do mal. Esse tipo de coisa acabou influenciando também.
Esse disco tem uma energia bem diferente. Depois desse disco, eu até
me sentia meio culpado por ter trazido aquela vibe para a banda. Imagina
você andar pelas superfícies de um cubo. Quando você chega na quina,
tem que virar noventa graus e descer. Quando eu ouvia o disco que
estávamos gravando, era essa isso que me vinha à cabeça. Quando começava
uma música, era a virada do cubo. Era essa a sensação.
Todos
aqueles anos tocando com Firefriend e com outros amigos, pra mim a
bateria tem o significado mais violento da coisa, da exposição do que
aquelas músicas representam para o músico.
PABLO ORUê
+

O
underground era um espaço livre, para as pessoas mostrarem o que elas
estavam fazendo. O que me empolgava era isso, que eu podia escrever
minha música, tocar com a minha banda, marcar um show, junto com a banda
de algum amigo meu, que tinha uma demo nova… era a época da fitinha.
Fita cassete, tinha gente que fazia ainda, eu tenho umas demos dessa
época. E aí também tinha o cd-r, e era legal por isso,
você conhecia, aí você trocava demos, estava todo mundo aberto, você ia
tocar e as pessoas assistiam. Nós produzíamos e mostrávamos uns para os
outros, sem precisar de uma gravadora, sem precisar estar no rádio.
Isso é que era independente pra mim. Você não dependia de nada para
subir no palco e cantar o que quiser. É um espaço livre.
JULIANA R
+

Nós
nos mudamos para Santo André em 1978. Minha família era uma das poucas
da nossa vila que moravam de aluguel. Mas todos nós estudávamos na mesma
escola, isso equilibrava as coisas. Com dez anos eu fui me ligando no
rock brasileiro. Aí veio o punk lá na minha vila. Apareceu o primeiro
disco do DEAD KENNEDYS. E alguém trouxe o Rocket To Russia, dos RAMONES.
Nos bailinhos da garagem, quando tocavam
músicas desses discos, era a hora do pogo. Com treze anos, comecei
estudar à noite. Com catorze, queria ter grana para comprar os meus
bagulhos. Daí eu fui trabalhar como ajudante de caminhoneiro. Para
comprar meus discos, minhas roupas, ajudar em casa. Era um trampo pesado
da porra, carregar e descarregar caminhão. Mas eu tinha o punk rock,
tinha minha grana, comecei a ir aos shows. Muito tempo depois, quando o
GIALLOS tocou na choperia do Sesc Pompéia, fizemos um cover de
INOCENTES.
O
Clemente subiu no palco, o Flavio começou a fazer uma série de viradas
na bateria, o Luiz fez umas microfonias loucas e sujas, e nós cantamos
‘Medo de Morrer’. O que eu sou hoje eu devo ao punk.
CLAUDIO COX
+

Eu
queria tocar guitarra por causa do Slash. Minha mãe me deu um violão,
porque pra mim era o mesmo bagulho. Uma guitarra, um violão. Meu pai,
mais metódico, falou “Quer tocar? Tem que estudar”. Então eu cheguei na
escola, com o violãozinho, e a professora falou pra mim que aquilo não
era uma guitarra, ela me mostrou uma guitarra, tá ligado? Eu pirei:
“nossa, que bosta, violão é uma bosta”, “Puta, fudeu, não é possível que é isso que o Slash faz”. Fiquei puto. Aí um
dia eu estava andando pela escola e vi uma batera montada numa das
salas, eu sentei e comecei a mandar um som, desci a mão. Já era. No dia
seguinte, em casa, tinha uma árvore, uma goiabeira, bem no meio do
quintal, eu coloquei um som bem alto, peguei o bagulho e arregacei.
Quebrei o violão na árvore. Simplesmente. Meu pai falou: “você nunca vai
ter uma bateria. Nunca. Só quando você não morar mais aqui.” Eu devia
ter uns doze anos nessa época: “beleza, foda-se, o que eu quero é tocar
bateria.”
FLáVIO LAZZARIN
+

É
assim né cara, eu só viajo em função de banda mesmo, com o Lê Almeida.
Eu toco com ele desde 2008, conheci o sul, o nordeste, fomos incontáveis
vezes para São Paulo, Minas Gerais, Goiânia. Antes, as pessoas não
sacavam a gente direito, mas agora, nessa última turnê, em quase todo
lugar, as pessoas até pedem: Ah, toca aquela música!
JOAB RéGIS
+